Está para nascer quem ache que não tem razão. Sempre achamos que temos. E são poucos entre nós os que se desculpam em família ou publicamente quando descobrem que não têm razão. É mais fácil mudar de opinião em silêncio para que ninguém perceba do que fazê-lo em voz alta.

No caso dos políticos, que a cada quatro anos se submetem ao julgamento popular, é quase impossível que um deles bata no peito, se desculpe e anuncie que estava errado e que por isso mudará de posição. Temem perder votos. Não contemplam a hipótese de que pode ocorrer justamente o contrário.

Raphael de Almeida Magalhães, quando ministro da Previdência Social do governo José Sarney, contou-me uma história que se passou com ele. Magalhães foi vice-governador da Guanabara de 1960 א 1965, durante o governo Carlos Lacerda, e com a redemocratização, deputado constituinte.

No seu último dia como vice-governador, Lacerda convidou-o para jantar: “Precisamos passar em revista nossos erros”. Jantaram no apartamento de Lacerda semanas mais tarde. Ao levá-lo até a saída do prédio, Lacerda lembrou que não haviam conversado sobre os erros. Então, justificou-se:

“Sabe de uma coisa, Raphael? Não erramos”.

O ex-presidente Fernando Henrique foi um dos mais ácidos críticos do seu próprio governo. Talvez se devesse à formação como sociólogo e a uma boa dose de esperteza. Ao comentar as falhas do governo, jogava a culpa para lá. O inferno são os outros, ensinou o filósofo francês Jean Paul Sartre.

Lula costuma fazer o oposto: exalta as realizações do seu governo. E é capaz de negar suas falhas mais evidentes. Quando estourou o escândalo do mensalão do PT em 2005, primeiro Lula chorou e disse que não sabia de nada; depois, que fora traído; e, em seguida, que o mensalão não existiu.

Lula jamais elogiou o Plano Real que domou a inflação, elegeu duas vezes Fernando Henrique presidente, e o derrotou duas vezes. Sim, Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe parlamentar, embora previsto na Constituição. Mas seu segundo governo foi um desastre, e Lula nunca disse.

Com a trajetória mais bem-sucedida entre os que governaram o país após a redemocratização, deve ser difícil para Lula enxergar erros e admiti-los em público. Por isso se arrisca em demasia a repetir alguns deles. Falar em excesso não faz mal somente à garganta, mas também ao cérebro.

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