Quando os conservadores afortunados do Brasil, senhores da Avenida Faria Lima, defendem a ideia de que Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, seria o mais forte candidato para enfrentar Lula em 2026, eles pensam em Tarcísio separado de Bolsonaro, a quem dizem rejeitar, ou em Tarcísio dependente de Bolsonaro para se eleger?

Caso sua inelegibilidade seja revogada, ou caso o Congresso o anistie por todos os crimes que cometeu, Bolsonaro vai querer ser candidato de novo contra Lula. Esse é o seu sonho – a Grande Revanche. Porque duas coisas ele sabe: se for candidato, banqueiros e empresários que o criticam à boca pequena o apoiarão; e sabe que Tarcísio sem seu apoio não vencerá Lula.

Tarcísio nunca disputou uma eleição até se candidatar ao governo de São Paulo em 2022. E só se candidatou por obra e graça de Bolsonaro, que o convenceu. Tarcísio achava melhor e mais seguro concorrer à vaga de senador. A vaga acabou sendo ocupada pelo astronauta Marcos Pontes, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações de Bolsonaro, seu padrinho.

A Faria Lima pode muito, mas não pode tudo. Não pode, por exemplo, dotar Tarcísio da experiência que um político só adquire ao disputar sucessivas eleições. Antes de se eleger presidente em 2018, Bolsonaro foi vereador e sete vezes deputado federal pelo Rio de Janeiro. A Justiça condenou e prendeu Lula para dar passagem a Bolsonaro; Lula liderava todas as pesquisas.

Pode-se alegar que Dilma Rousseff, ao se eleger presidente pela primeira vez, também carecia de experiência. Nunca disputara uma eleição. Mas ela fora duas vezes ministra de Lula (de Minas e Energia e da Casa Civil). E quando Lula a indicou para presidente, ele estava no cargo e no auge de sua popularidade. Dilma se reelegeu derrotando Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais.

O único presidente que tentou se reeleger e não conseguiu foi Bolsonaro. O único ex-presidente que voltou ao cargo pela terceira vez foi Lula. Getúlio Vargas governou como ditador durante 15 anos, e como presidente eleito, mais quatro anos, matando-se com um tiro no peito para não ser derrubado. Vencer Lula será uma tarefa difícil para Tarcísio, que sequer é conhecido nacionalmente.

Mas não é impossível. Para isso, Bolsonaro terá que estar ao seu lado, ou à distância para Tarcísio não ser confundido com um boneco de ventríloquo. De todo modo, Tarcísio será obrigado a radicalizar seu discurso para ficar mais parecido com o discurso de Bolsonaro, e assim tentar fechar o sinal à entrada em cena dos Marçais da extrema-direita.

Vem cá: não seria mais fácil e menos arriscado ele se reeleger governador de São Paulo? É o que muitos pensam, mas poucos dizem – a não ser Gilberto Kassab, presidente do PSD, e o todo poderoso secretário de Tarcísio. Em 2030, não haverá mais Bolsonaro nem Lula no meio do caminho dele.

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